domingo, 22 de novembro de 2015

Peregrina



É com as pontas dos pés
que retomo meus passos

- par de canelas escaldadas
tateando espaços -

Nas mãos, 
a bússola dos devotos da saudade.

No bolso,
um quinhão de sementes de girassol.

Peregrina em busca da luz, confesso:
Sou estrangeira daqui e dali...



domingo, 25 de outubro de 2015



Que se trabalhe arduamente e que se tenha uma jornada extensa não basta. É preciso, na contemplação do firmamento, questionar o propósito de cada passo e a real vocação da luz-própria. É necessário deixar o lirismo adornar cada emoção e gesto, para que a transcendência não seja uma vã palavra poética.

É preciso, ainda, na quietude das noites, convocar a intuição e a sabedoria para que se encontre, na ebulição dos dias, o contraponto entre o deleite e a missão.





sexta-feira, 3 de abril de 2015




Por ter atravessado tantas balizas e lonjuras 
é que celebro hoje o rito da descoberta;

há mais matizes em meu olhar
e menos distância entre meus pés e o chão
do que previa minha poética percepção do mundo.

Por ter sido guardiã do reflexo da lua
e guiada pelo bálsamo dos ramalhetes,
é que comemoro hoje o ímpeto da alforria;

ao espreitar pelas minhas janelas
vejo que já são passados os dias de febre e luto.

A correnteza das horas levou o medo das colisões
e minhas vestes de agora
 inauguram o tecido do enfrentamento.


É Páscoa em mim...


domingo, 29 de março de 2015




Muitas são as mãos férteis de bondade e afeto. Mãos que afrouxam cadeias e rompem cadeados.
Protegem, guiam e sinalizam as emboscadas do caminho.
 Mãos que acolhem, curam e salvam. São predestinadas a escrever conosco uma nova história...
Abençoadas sejam essas mãos inesperadas que, entrelaçadas as nossas, 
nos ajudam a resgatar a crença na humanidade...






Muitas são as mãos vazias de generosidade e gratidão. 
Mãos que transpiram soberba pelos dedos que apontam e ordenam.
Cobiçam murros e colecionam lesões. Simulam arrimo, mas miram o precipício.
Muitas são as mãos calejadas de perversidade e hipocrisia. 
São mãos que regem por várias estações, 
mas que dificilmente tangerão a sinfonia da primavera...






O que paralisa nossa evolução espiritual é a indisponibilidade para o questionamento interno. 
Ao escolhermos fincar os pés no pedestal da arrogância, 
vivemos uma “surdez” que nos impede a escuta alheia, muitas vezes tão preciosa de amparo. 

Enquanto nos considerarmos superiores e detentores da verdade absoluta, 
a expansão da nossa consciência ficará bloqueada para o amadurecimento.

Se não tivermos humildade para sair da egolatria, 
dificilmente conseguiremos transformar dor em aprendizado 
nem desfrutar a alegria do mistério da vida.








A curiosidade é filha da inquietação, irmã da criatividade e mãe das descobertas. 
É fome de interrogação. É sede de aprendizado.

É ela que nos ajuda a compreender não apenas os pensamentos e atitudes alheias, 
mas principalmente as nossas, 
levando-nos a formar convicções e abraçar escolhas...






Que bonito é o amor que não vive o fardo de ter que equilibrar o tempo todo, 
uma bandeja com cristais...