sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Delírios





Teu aroma se sobrepõe a tua ausência
e espero-te na curva dos meus delírios,
vontade nutrida pelo calor dos teus olhos
e ornada pelo viço da tua pele.

O desejo com que me invades
faz chispas de prazer e medo,
eriça meu ventre tão pleno de nada
habituado em conter tantas revoadas.

Tua fome sobre mim é lume
e sacia meu suspiro desse instante.
Deito-me nos braços do meu gozo,
onde me esqueço e me encontro.

Depois, nuvem à deriva,
dissolvo-me na realidade...




Poema de gratidão



Riste de mim, sei disso,

dessa pueril ingenuidade
que me assola desde sempre,

da minha tola persistência
em crer na bandeira branca,

dessa minha frenética utopia
em desanuviar tempestades,

da eterna tentativa de
preencher os sulcos do arado. 

Riste de mim, é tudo que sei.

Ironia que se fez impulso
para meu emergir das águas,

que se fez ventania para
meu voo colorido.

Sim, riste de mim.
E grata sou.



sábado, 24 de novembro de 2012

Sobre força de vida




Quem já se consumiu em seu próprio caldeirão
 não se deixar queimar pelas faíscas que o vento traz. 



sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A história do "fazeu"




Uma das coisas que mais me deixam perplexa é a maneira preconceituosa que alguns julgam a vida e o trabalho alheio, convictos que habitam em uma esfera superior, até intocável, onde reside a verdade absoluta.
Outro dia ouvi de uma catedrática que os “best-sellers” são demasiadamente pobres e lhes causam asco, razão pela qual não os lê. Compreendo que seu nível de exigência é alto e que aprecia uma literatura refinada. Até aí tudo bem, mas dizer que se sente enojada?!..Será que não percebe que tais livros podem beneficiar e entreter milhares de pessoas através de uma linguagem acessível e que muitas que não têm o hábito da leitura podem começar a gostar de ler?
É claro que aprecio os bons livros, principalmente os clássicos, mas confesso que não tenho o menor preconceito com literatura de massa.
Acho um desperdício focarmos apenas no lado negativo das coisas. Criticar tudo o tempo todo torna a pessoa ranzinza, azeda e infeliz. O negativismo mina o prazer de viver, afinal o que há de agradar alguém tão exigente?!
Conheci a história de um rapaz que não teve condições de terminar seus estudos, mas que nem por isso se intimidou diante da vida. Abriu um pequeno comércio, ainda bem moço, e trabalhou arduamente. A loja cresceu muito e com o tempo abriu filiais. Buscou cursos de aperfeiçoamento e aos poucos foi ganhando mais conhecimento técnico. Seu negócio prosperou de tal forma que hoje o país inteiro é abastecido com seus produtos. Descobri que durante as palestras iniciais ele cometia alguns erros crassos de português, motivo de grande chacota e desdém. Costumavam brincar: “Esse é o cara. O cara que “fazeu”. Sim, de fato ele fez mesmo... fez bonito e continua fazendo. A despeito das dificuldades e erros, do olhar torto e do preconceito que o espreitava, jamais perdeu o entusiasmo pelo trabalho e por aprender coisas novas.

Longe de fazer uma apologia à ignorância ou à falta de qualidade, penso que é preferível uma ação à pura e simples retórica.
Como bem escreveu Vinícius de Moraes: “A vida só se dá pra quem se deu”. Um  viva para quem sonha e realiza e um viva ainda maior para quem não se intimidou e “fazeu”!




terça-feira, 20 de novembro de 2012

Sonhos Rubros



Em meu leito de sonhos rubros
meu ventre amanhece orvalhado.
Sonho meus dedos sendo os teus
e consagro um desejo de pecado.

Tua boca é minha taça de absinto
e cada gole é fermento para a volúpia.
Tua língua vibra nas minhas entranhas
onde habitam vontades impublicáveis.

Invade-me teu perfume de alquimista,
um amálgama de aromas e sabores.
Nesse instante sou grito de prazer e glória
e posso afirmar que visitei o paraíso...



domingo, 11 de novembro de 2012

Em outro lugar




O suco tem
o sabor
que a fruta fresca
não tem.
  
A saudade tem
a presença
que a pessoa presente
não tem.
  
A poesia tem
a intensidade
que a fonte inspiradora
não tem.
  
Porque o sabor,
a presença e a intensidade das coisas
não estão onde as coisas estão...