sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A história do "fazeu"




Uma das coisas que mais me deixam perplexa é a maneira preconceituosa que alguns julgam a vida e o trabalho alheio, convictos que habitam em uma esfera superior, até intocável, onde reside a verdade absoluta.
Outro dia ouvi de uma catedrática que os “best-sellers” são demasiadamente pobres e lhes causam asco, razão pela qual não os lê. Compreendo que seu nível de exigência é alto e que aprecia uma literatura refinada. Até aí tudo bem, mas dizer que se sente enojada?!..Será que não percebe que tais livros podem beneficiar e entreter milhares de pessoas através de uma linguagem acessível e que muitas que não têm o hábito da leitura podem começar a gostar de ler?
É claro que aprecio os bons livros, principalmente os clássicos, mas confesso que não tenho o menor preconceito com literatura de massa.
Acho um desperdício focarmos apenas no lado negativo das coisas. Criticar tudo o tempo todo torna a pessoa ranzinza, azeda e infeliz. O negativismo mina o prazer de viver, afinal o que há de agradar alguém tão exigente?!
Conheci a história de um rapaz que não teve condições de terminar seus estudos, mas que nem por isso se intimidou diante da vida. Abriu um pequeno comércio, ainda bem moço, e trabalhou arduamente. A loja cresceu muito e com o tempo abriu filiais. Buscou cursos de aperfeiçoamento e aos poucos foi ganhando mais conhecimento técnico. Seu negócio prosperou de tal forma que hoje o país inteiro é abastecido com seus produtos. Descobri que durante as palestras iniciais ele cometia alguns erros crassos de português, motivo de grande chacota e desdém. Costumavam brincar: “Esse é o cara. O cara que “fazeu”. Sim, de fato ele fez mesmo... fez bonito e continua fazendo. A despeito das dificuldades e erros, do olhar torto e do preconceito que o espreitava, jamais perdeu o entusiasmo pelo trabalho e por aprender coisas novas.

Longe de fazer uma apologia à ignorância ou à falta de qualidade, penso que é preferível uma ação à pura e simples retórica.
Como bem escreveu Vinícius de Moraes: “A vida só se dá pra quem se deu”. Um  viva para quem sonha e realiza e um viva ainda maior para quem não se intimidou e “fazeu”!




Um comentário:

  1. Eu já fui um fiscal de erros de Português, mas aprendi com o tempo que existem "erros" e "erros". Erros absurdos, provenientes da falta de leitura, e erros aceitáveis pela falta de oportunidade para aprender.
    O "fazeu" é o resultado do excesso de exceções à regra em nosso idioma: se bateu, correu, morreu, entendeu e sofreu, por que não fazeu?
    Parabéns pela postagem
    Roberto

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